quarta-feira, 26 de maio de 2010

Walk the Line

Como de costume, ficamos os três jogados no canto do mundo. Eu, ela e Cash. Estávamos há algumas estrofes de uma ressaca homérica. Logo chegariam os sustenidos da noite anterior. Cash não titubeou, pegou o violão, sacou algumas notas, tentando rebater o que acontecera antes. Em vão. Tudo estava acabado. Cada acorde dormia antes mesmo de alcançar os ouvidos de nós dois.

Por um instante pensei que estávamos nalguma prisão do interior dos Estados Unidos. Engano meu. A prisão era muito maior. Olhei em volta. Estávamos no deserto. De certo não tinha água por perto. Caminhei, caminhei e continuei no mesmo lugar. Suor, superação e qualquer outra palavra motivacional não ajudaria a descrever tal cena. Não era possível. Não podia ser. Merda!

Foi então que peguei na mão de Margot, desliguei o Ipod e abri a geladeira.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Futebol é uma droga

Mais um ano de copa, mais um ano de sofrimento. E dessa vez, temos um grupo de verdade pela frente. Drogba, ou melhor, droga.

Tudo parece voltar como num flashback psicodélico de filme da sessão da tarde. O verde louro dessa flâmula sai do baú e vai pra sacada. A fitinha verde amarela sai do ambulante, vai pro carro. A camiseta da seleção sai do armário, vai pro peito. Que orgulho, que ritual. Ligamos a televisão, fazemos o sinal da cruz e cantamos o hino.

O juiz apita. A bola rola, o lábio é mordido, a blusa é torcida, a mão é fechada, a unha é roída. A tensão toma conta. Nos sentimos culpados, olhamos de lado, sem querer ver qualquer fiasco.

Jair sentado no sofá mantém a mesma posição de quando assistiu a copa de 70. Tia Guiomar pega o terço da sorte e aperta como se estivesse torcendo a orelha de um menino malcriado. Já Rodolfo prefere usar a mão de sua namorada como Joystic. Segundo sua teoria, quanto mais se aperta a mão do cônjuge, mais o adversário joga a bola pra fora. E se, e somente se, cravar as unhas até a carne, é bem provável que o jogador do time adversário faça um gol contra. Mas tal peripécia só deve ser utilizada em último caso. Lembrando que um jogador de seu time sempre será sacrificado com cartão vermelho para cada gol contra.

Loucura? Você acha? Está tudo escrito no artigo 15.3 do regulamento da teoria da cabeça de Rodolfo.

De repente, o garçom pára de servir cerveja, o rapaz segura o mijo, a moça, sem querer, deixa o queixo cair. O bar pára. O bairro pára. A cidade pára. Tudo pára para ver o atacante canarinho puxar a descarga de adrenalina. Você sente a euforia chegar pela veia. Subir pela espinha e o grito que estava contido por quatro anos, se liberta. Você sai do corpo. É como se você fizesse parte do time. É como se você participasse da jogada. É gol, caralho!

...

Eu sei que vicia, mas eu uso Futebol. O ruim de drogas desse porte é que elas ficam restritas a poucos canais de vendas. Como Canal Globo, Bandeirantes, ESPN e SPORTV. Droga.