domingo, 29 de setembro de 2013

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Walk the Line

Como de costume, ficamos os três jogados no canto do mundo. Eu, ela e Cash. Estávamos há algumas estrofes de uma ressaca homérica. Logo chegariam os sustenidos da noite anterior. Cash não titubeou, pegou o violão, sacou algumas notas, tentando rebater o que acontecera antes. Em vão. Tudo estava acabado. Cada acorde dormia antes mesmo de alcançar os ouvidos de nós dois.

Por um instante pensei que estávamos nalguma prisão do interior dos Estados Unidos. Engano meu. A prisão era muito maior. Olhei em volta. Estávamos no deserto. De certo não tinha água por perto. Caminhei, caminhei e continuei no mesmo lugar. Suor, superação e qualquer outra palavra motivacional não ajudaria a descrever tal cena. Não era possível. Não podia ser. Merda!

Foi então que peguei na mão de Margot, desliguei o Ipod e abri a geladeira.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Futebol é uma droga

Mais um ano de copa, mais um ano de sofrimento. E dessa vez, temos um grupo de verdade pela frente. Drogba, ou melhor, droga.

Tudo parece voltar como num flashback psicodélico de filme da sessão da tarde. O verde louro dessa flâmula sai do baú e vai pra sacada. A fitinha verde amarela sai do ambulante, vai pro carro. A camiseta da seleção sai do armário, vai pro peito. Que orgulho, que ritual. Ligamos a televisão, fazemos o sinal da cruz e cantamos o hino.

O juiz apita. A bola rola, o lábio é mordido, a blusa é torcida, a mão é fechada, a unha é roída. A tensão toma conta. Nos sentimos culpados, olhamos de lado, sem querer ver qualquer fiasco.

Jair sentado no sofá mantém a mesma posição de quando assistiu a copa de 70. Tia Guiomar pega o terço da sorte e aperta como se estivesse torcendo a orelha de um menino malcriado. Já Rodolfo prefere usar a mão de sua namorada como Joystic. Segundo sua teoria, quanto mais se aperta a mão do cônjuge, mais o adversário joga a bola pra fora. E se, e somente se, cravar as unhas até a carne, é bem provável que o jogador do time adversário faça um gol contra. Mas tal peripécia só deve ser utilizada em último caso. Lembrando que um jogador de seu time sempre será sacrificado com cartão vermelho para cada gol contra.

Loucura? Você acha? Está tudo escrito no artigo 15.3 do regulamento da teoria da cabeça de Rodolfo.

De repente, o garçom pára de servir cerveja, o rapaz segura o mijo, a moça, sem querer, deixa o queixo cair. O bar pára. O bairro pára. A cidade pára. Tudo pára para ver o atacante canarinho puxar a descarga de adrenalina. Você sente a euforia chegar pela veia. Subir pela espinha e o grito que estava contido por quatro anos, se liberta. Você sai do corpo. É como se você fizesse parte do time. É como se você participasse da jogada. É gol, caralho!

...

Eu sei que vicia, mas eu uso Futebol. O ruim de drogas desse porte é que elas ficam restritas a poucos canais de vendas. Como Canal Globo, Bandeirantes, ESPN e SPORTV. Droga.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Descobertas

Hoje descobri uma coisa. Ela não tem forma, não tem precedentes mas tem muita sagacidade. É subjetiva e pessoal, por isso você precisa conferir com seus próprios olhos.

A minha opinião é até válida, mas talvez devesse pedir para que essa novidade escrevesse essas palavras. É como achar uma nota de cinco reais no fundo da calça velha e de repente se sentir rico. Como descobrir que a última bolacha Bono do pacote, na verdade veio tripla.

Bom, eu sou pago para isso, mas o que descobri é que meu irmão escreve melhor que eu. Novo blog dele, confiram vocês mesmos em http://trips-e-calamares.blogspot.com/

terça-feira, 9 de março de 2010

o dia foi ontem...

...o cartão vem hoje.



e-mail mkt que fiz com Masili pra Fiat e suas funcionárias.
Mas estendo aqui para todas mulherees!

sexta-feira, 5 de março de 2010

O diário odiável.

Com algumas pedras no caminho, se chega ao mar. Essa é a minha primeira impressão do dia que se materializa no criado mudo ao meu lado. Alguns números vem em mente, ignoro e tomo um suco de laranja, com gominhos que disfarçam a não naturalidade do produto. É bom e faz a gente esquecer do pé de laranja para começar a achar que existem pés de tetra pak. Delícia. Qualquer dia enterro uma caixa e fico regando pra ver no que dá.

Mas isso não vem ao caso, vou de encontro a minha roupa do dia, me troco, pego um troco e tranco a porta. Chego no ponto, perco o primeiro, ganho o segundo. O motorista não ta com cara de bons amigos, em compensação o cobrador faz cara de bom dia, mas não fala nada.

Tropeço nalgumas palavras e aperto o play dos transeuntes do busão:

A moça de cabelos ao vento fará uma entrevista. O rapaz lendo o Metro não sabe o que faz. O moleque que passa embaixo da catraca não vê que sua vida não passa de um fantoche de nobre. A mulher de vermelho pensa nos zeros depois da vírgula e torce para que as compras do mês durem um ano. O cara que se veste descontraído logo terá a melhor idéia de sua vida: deixar de ter idéias.

Aperto o botão, desço e venho trabalhar. Vejo figuras, leio futilidades e ainda estou próximo do horário de almoço. Já esqueço do conto e conto os caracteres para colocar logo um ponto nisso tudo. Ou três? ...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

play



Pegou o primeiro papel que viu, um rascunho de um desenho de criança e começou a rabiscar. Começou com letras, fez palavras, formou predicados, sujeitos e sentenças. Não tinha pressa, por surpresa o pensamento dessa vez havia vindo mais devagar, mais sereno que a escrita, mais devagar que um camelo de férias tomando água de coco no Saara. Começou então, não como de costume, pelo começo.

Escreveu sobre a infância, sobre a vida no interior. As brincadeiras, as mulecagens com os amigos, o João Bobo, o peão, o pega-pega, o pique esconde, cadê? Não sei. Lembrou de Pedro, seu dinheiro, seu Master System e suas duas irmãs. Durante muito tempo sonhara ser o Alex Kid, ganhar aquelas duas beldades no Joquei Pô e ficar deitado numa rede esperando o mundo terminar. Não terminou. Então continuou. Foi dessa para a adolescência.

Do sonho para a realidade, virou cunhado de Pedro. Não conseguiu as duas, mas da feira, experimentou uma maça. E gostou, e foi atrás de outros lares de outros pomares. Numa dessas escreveu a sua primeira carta de amor, pegou gosto pela preposição. Da dissertação ao argumento, da prosa a poesia, das cartas as magoas, chegou à idade adulta.

Conheceu o desapego, o desgosto e a cachaça. Todas um tanto difícil de descer da primeira vez, sendo a última um pouco mais prazerosa, um pouco mais fiel. Com mel, com ela, sem ela. Tanto faz. Um gole. Glup. Desceu!

E agora se encontrava aqui nesse sofá velho com 39 anos e uma Bic, escrevendo esta carta para se despedir. Dizem que quando vamos partir, passa um filme na nossa cabeça. É verdade, disse ele. Decidiu então transformar esses últimos minutos num romance. Escreveu. Escreveu. Ficou orgulhoso no final, mas um pouco receoso. Não queria mais se matar. A vida parecia bela depois daquelas palavras. Tirou um tempo para pensar. Pensou.

Pegou os papeis. Leu, releu. Tinha escrito a sua obra prima. Não tinha como negar. Não tinha. Pegou o controle remoto que estava na mesa, apertou o play e deixou o casting subir...FIM!